quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Ed Motta - Aystelum
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Aystelum é um mundo paralelo concebido por Ed Motta. Em seu novo trabalho, o cantor, compositor, instrumentista e arranjador parte do caminho aberto por “Dwitza” (2001) e incorpora novos elementos a uma sonoridade em constante evolução, mantendo sua marca registrada de sofisticação harmônica.
Ed Motta é apaixonado por música e seu novo álbum reflete seu gosto musical sem fronteiras. Em Aystelum, assim como na vitrola de Ed, convivem em harmonia o jazz, o samba, o soul e os musicais da Broadway. Aliás, a junção desses fragmentos aparentemente dispersos nada mais é do que a própria definição do trabalho de um compositor.
A capa criada por Edna Lopes e Ed Motta, de traço inspirado nos quadrinhos franco-belgas da escola Ligne Claire, oferece algumas pistas para desvendar o mistério de Aystelum. A história sem palavras remete a um universo fantástico e demonstra como a audição do disco pode levá-lo a lugares desconhecidos.
Neste disco, buscou-se uma naturalidade nas interpretações, com os músicos tocando “ao vivo” no estúdio, todos ao mesmo tempo. Poucos detalhes foram adicionados posteriormente – um trabalho no qual Ed é mestre, retratado no documentário sobre a gravação de “Poptical” (2003), ncluído no DVD lançado em 2004.
A busca pela liberdade de expressão é o que move Ed Motta. Assumir riscos é condição fundamental para atingir esse objetivo. No universo de Aystelum, o autor exerce controle absoluto, utilizando-o para realizar um sonho que poderia encontrar limitação no mundo real.
Ed comenta que em sonhos recebeu a inspiração para a criação das palavras originais que dão título ao disco e a vários de seus temas.
Alberto Continentino (baixo), Paulinho Guitarra, Rafael Vernet (teclados) e Renato “Massa” Calmon (bateria) já são presenças constantes nos discos e nos shows de Ed. Aystelum também conta com participações especiais, dentre outros, de Andrés Perez (saxofone tenor) e de seu colaborador freqüente Jessé Sadoc Filho (trompete). O destaque dado por Ed Motta para o trabalho dos músicos é raro nos artistas populares atuais. Talvez por isso seja tão difícil reunir um grupo tão seleto como Ed consegue fazer.
O disco abre com o spiritual jazz Awunism que data da turnê de Dwitza e precisou esperar o momento certo para ser gravado, mas nem por isso perdeu sua urgência. O chileno Andrés Perez faz sua estréia em disco no Brasil com um solo arrasador, de vocabulário post-bop. Laudir de Oliveira, ex-membro da banda Chicago, participa pela primeira vez de um disco de Ed. Na mixagem, um efeito pouco utilizado atualmente – baixo e bateria estão separados, do lado esquerdo e direito, respectivamente – verifique seu equipamento estereofônico!
A segunda faixa é um samba em parceria com Nei Lopes que consegue sintetizar com maestria o ambiente do Rio antigo, a partir de suas Pharmácias (com PH) de estilo art déco. Apesar da referência histórica, este samba aponta para o futuro, a partir da utilização de teclados analógicos e de uma harmonia pouco usual.
Aystelum é a trilha sonora perfeita para o ambiente caracterizado na capa do disco. O tema que dá nome ao disco destaca-se pelo arranjo espacial, em que o curso é alterado a todo momento. No início, Renato “Massa” Calmon utiliza a bateria como um instrumento melódico. Em seguida, um discurso ultra preciso do trompete de Jessé Sadoc Filho. Novamente o tema é executado, com um arranjo diferente, valorizando a melodia, uma das mais belas já compostas por Ed. Ao final, os pianos Rhodes e Celesta, cujos timbres se completam perfeitamente, travam um diálogo incomum.
O samba-jazz de andamento rápido e titulo irônico É Muita Gig Véi utiliza novamente instrumentos pouco usuais no estilo, como os pianos RMI e Multivox, o Hohner Clavinet e o Elka Rhapsody. Destaca-se também o solo de voz de Ed.
Samba Azul conta com a interpretação impecável de uma das melhores vozes brasileiras. Alcione é uma das cantoras favoritas de Ed Motta e este dueto foi gravado no mesmo take, sem overdubs. O Rio de Janeiro sombrio, diferente do habitualmente retratado, é captado na bela letra de Nei Lopes. Curiosidade: A sessão de gravação teve direito a banquete gastronômico, com cozinha típica do Maranhão, cortesia de Alcione.
Na sexta faixa, Balendoah, uma banda de 14 músicos executa um jazz moderno e furioso. A utilização de duas baterias - Tutty Moreno (canal direito) e Renato “Massa” Calmon (canal esquerdo) - e dois baixos – Alberto Continentino e Paulo Russo - dá a sensação de liberdade rítmica à música. O piano RMI, o primeiro piano eletrônico inventado, é ideal para o solo inventivo de Rafael Vernet.
Na seqüência, Ed Motta coloca em prática um antigo sonho de compor para um musical. O arranjo de Jota Moraes, baseado em idéias originais de Ed, remete às trilhas de desenho animado que o autor ouviu na infância e dos musicais da Broadway que aprendeu a gostar já adulto. As três músicas tiradas do musical, Abertura, Na Rua e Canção em Torno Dele contam com a participação do elenco do espetáculo.
O musical “7”, com texto e direção de Charles Moeller, letras de Cláudio Botelho e músicas de Ed Motta, será montado ainda este ano.
A parte final do disco contém músicas que mais se aproximam do trabalho anterior de Ed. A Charada é um pop noturno levado à perfeição pela letra de Ronaldo Bastos e Ed Motta. O solo de Paulinho Guitarra mostra porque Ed o classifica como um de seus guitarristas favoritos.
A ensolarada Patidid é um funk-samba de sotaque carioca, fechando o disco com o sabor do movimento Black Rio. Nesta faixa, assim como em todo o disco, Alberto Continentino utiliza o baixo acústico, o que é raro no idioma do funk.
Na última hora, decidiu-se pela inclusão de Guezagui, um tema executado nos shows europeus da turnê de Poptical, que esconde diversas experimentações de estúdio como a utilização de 2 baterias e 6 pianos Celesta.
Aystelum é o disco mais pessoal de Ed Motta até hoje e representa o melhor que o autor poderia produzir, isto é, o disco que ele gostaria de ouvir em casa.
A experimentação de estilos diversos é surpreendente e estimula novas audições. Em Aystelum não existem preconceitos musicais, nem regras, mas somente a devoção de Ed Motta pela música e a convicção de que um artista deve ter como único compromisso a liberdade de criação.
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